História
- Azerbaijão na antiguidade
- Azerbaijão na Idade Média
- Os Estados Canatos independentes do Azerbaijão
- O Reassentamento dos Armênios no território do Azerbaijão
- Azerbaijão no século XIX – início do século XX
- A Primeira República: A República Democrática do Azerbaijão (1918-1920)
- A Segunda República: A República Socialista Soviética (RSS) do Azerbaijão (1920-1991)
- A Terceira República: A República do Azerbaijão
1. Azerbaijão na antiguidade
Os estudiosos consideram que o Azerbaijão inclui "a terra povoada hoje pelos turcos azerbaijaneses, os povos que habitam a região que se estende desde as encostas do norte das Montanhas do Cáucaso ao longo do mar Cáspio até o planalto Iraniano". O Azerbaijão está entre as áreas de assentamento humano mais antigas, com evidências de habitação humana desde a era Paleolítica. Os assentsados praticavam a agricultura e criação de gado eram amplamente distribuídos nesta área, nos milênios VI e VII AC. Gravuras rupestres em Gobustan são datadas pelos cientistas do milênio XIII A.C.
O famoso explorador Norueguês Thor Heyerdal, que fez viagens especiais para o Azerbaijão em 1979 e 1994, para estudar as gravuras rupestres, acredita que o litoral do mar Cáspio foi o berço da civilização, que depois se espalhou para o sul e para o norte. Heyerdal encontrou provas para a sua hipótese não só nos Petróglifos em Gobustan de barquinhos feitos de palha, notavelmente semelhantes aos barquinhos pintados séculos depois pelos Vikings nas paredes das cavernas da Noruega, mas também nas sagas escritas na Idade Media. As gravuras rupestres em Gobustan de barcos ultrapassados pela imagem do sol irrefutavelmente atestam os laços entre os primeiros assentamentos do Azerbaijão e da civilização Sumero/Akkadia da Mesopotâmia, a herança cultural dos quais inclui pinturas muito semelhantes.
No final do milênio IV A.C. e nos primeiros anos do milênio III A.C., aparecem os sinais do surgimento da primeira sociedade de classes com a civilização proto-urbana e as estruturas estaduais embrionárias. Foi nessa época que as alianças tribais foram formadas pela Aratta, Gutis e Lullubis. De acordo com as fontes cuneiformes sumérios, o primeiro Estado que surgiu no território do histórico Azerbaijão foi o estado de Aratta, que surgiu na primeira metade do milênio III A.C. nas áreas do sul e sudeste do Lago Urmia. A partir de 2300 A.C., o segundo Estado do Azerbaijão antigo apareceu no sul do Lago Urmia – o Estado Lullubum. O estado Guti se formou mais tarde, na segunda metade do milênio III A.C., no oeste e sudoeste do Lago Urmia. Em 2175 A.C., os Gutis conquistaram os Sumérios e Akkados e dominaram eles por 100 anos. Os estados antigos do Azerbaijão, que mantiveram os laços políticos, econômicos e culturais com Sumérios e Akkadios, e formaram parte da ampla civilização da Mesopotâmia, foram governados pelas dinastias de origem turca. Os povos turcofônicos, que habitaram a área do Azerbaijão desde os tempos antigos, eram adoradores do fogo e adeptos do Zoroastrismo, uma das religiões mais antigas do mundo. No período entre os séculos IX – VII A.C., o reino Manna influenciou a área do Lago Urmia. O reino Cimério-Citas-Saca floresceu nos séculos VII e VI A.C., no sudoeste do Azerbaijão. No meio do século VI A.C., o reino Manna foi derrubado.
Um papel vital foi desempenhado na história do Azerbaijão pelo reino de Atropatene, que surgiu na parte sul do país nos anos 5 A.C. e que foi fortemente influenciado pelo helenismo.
O Estado da Albânia Caucasiana foi criado no norte do Azerbaijão no final do século IV e no início do século III A.C., com o rio Araz sendo a sua fronteira no sul. O povo da Albânia era constituído por várias pessoas de várias nacionalidades, a maioria dos quais falavam línguas túrquicas. O Cristianismo foi adotado na Albânia desde o ano 313.
Durante o período do século I até o século IV, quando a área inteira do Cáucaso estava sob o domínio Romano, a Albânia permaneceu como o único estado independente e, com a sua independência política, floresceram a educação, a língua e a literatura Albanesa. No mesmo período, o poder crescente e a influência do Catholicossato Autocéfala da Albânia e da Igreja da Albânia em geral, que era independente das outras igrejas cristãs e até propagou o Cristianismo entre os povos do Cáucaso do norte e os povos turquicos.
2. Azerbaijão na Idade Média
Após a invasão dos árabes, o islã tornou-se a religião dominante no Azerbaijão desde o inicio do século VIII. A maioria dos Albaneses também se converteram ao islã, e somente uma minoria manteve a sua religião. Sob a influência do Império Bizantino no Cáucaso do sul, a igreja Albânia, junto com a igreja Georgiana, aceitaram a doutrina do diofisismo, um pouco antes da invasão árabe. A fim de criar um obstáculo para a influência Bizantina, o Calafate, com o apoio da igreja Armênia, guiou a igreja da Albânia a seguir o monofisismo e a transferiu para o domínio da Igreja Georgiana Armênica monofisita, abrindo caminho para a Gregorianização gradual subsequente dos albaneses que habitavam as áreas montanhosas do Karabakh.
A coabitação dos moradores da Albânia e Atropatena dentro de um único Estado e a prática da mesma religião, ajudou a garantir a consolidação do povo azerbaijanês. Os ideais universal de liberdade, independência e igualdade alimentaram o movimento Hurramite, chefiado pelo Babak, que floresceu no Azerbaijão no inicio do século IX. Após a ascendência anti-Califado pela população local, alguns novos estados surgiram no território do Azerbaijão no século IX, o mais poderoso deles era o Estado Shirvan, cujo a capital era Shamakha, governado pela dinastia Mezyedi. Esse estado durou até século XVI, e desempenhou um grande papel na história do Azerbaijão medieval. Os estados independentes de Sajids, Salarids, Ravvadids (com as suas capitais em Maragha, Ardabil e Tabriz) e Shaddadids (cuja capital foi Ganja) existiram desde o século IX até XI, no território do Azerbaijão.
O Azerbaijão era governado pela dinastia Seljuk desde o final do século XI. No período de 1136 a 1225, o estado Atabek Eldegiz dominou o Azerbaijão.
O compartilhamento pela população indígena do país de uma língua turca em comum e proveniência turca e sua adesão à mesma fé islâmica possibilitaram um processo de consolidação da nação azerbaijanesa que atingiu seu ponto culminante nos séculos XI e XII.
Neste mesmo período houve um grande florescimento da cultura do Azerbaijão, que apresentou ao mundo uma série de ilustres filósofos, arquitetos, poetas e cientistas. O ponto alto do pensamento social e cultural azerbaijanês daquele período foi a obra do Nizami Ganjavi (1141-1209), poeta e filósofo, atualmente um dos tesouros da herança cultural mundial.
Nos séculos XII e XIII houve um crescimento nas regiões montanhosas do Karabakh, do principado Xachen, chefiado pelos reis Albaneses. O governo de Hasan Jalal (1215-1262) promoveu o renascimento Albaniano e viu a conclusão da construção do complexo do mosteiro de Gandzasar, cuja catedral se tornaria o centro da igreja e do qual a consagração foi presidida pelos Católicos da Albânia.
A partir da metade do século XIII, os estados azerbaijaneses tornaram-se vassalos da dinastia Mongol Hulagid (1258-1356).Em meados do século XIV, depois da revolta da população local para se livrar da opressão dos invasores, os senhores feudais locais Jalairid assumiram o controle do poder no Azerbaijão e, com o apoio da nobreza azerbaijanesa, estabeleceram o Estado Jalairid (1359-1410).
Desde o fim do século XIV, o Azerbaijão foi invadido pelo Tarmelan repetidas vezes, e serviu como um teatro para suas batalhas com a Horda Dourada.
As dinastias azerbaijanesas de Gara-Goyunlu e Ag-Goyunlu governaram o Azerbaijão nos períodos de 1410-1468 e 1468-1501 e, sob esse governo, o Azerbaijão aumentou bastante o seu poder. Em 1501, o Estado Safavid se formou no Azerbaijão, que recebeu seu nome em homenagem à dinastia dirigente azerbaijanesa, com a capital em Tabriz. Sob o governo desta dinastia, pela primeira vez na história, todos os territórios do Azerbaijão foram unidos em só um estado azerbaijanês. O território do Estado Safavid se estendeu desde o Rio Amu Darya até Eufrates, e desde Derbent até os litorais do Golfo Pérsico. Esta política foi estabelecida e desenvolvida essencialmente como um estado azerbaijanês e todo o poder político permaneceu nas mãos da nobreza feudal azerbaijanesa. Os oficiais do tribunal, os generais militares e os governadores das províncias foram nomeados pela nobreza azerbaijanesa. O exército era composto da milícia dos clãs mais poderosos azerbaijaneses. O azerbaijanês era a língua oficial do estado Safavid. No final do século XVI, a capital do estado Safavid foi transferida para Isfahan e o seu Xá obteve o principal apoio da nobreza persa. O Estado, enquanto governado pela dinastia azerbaijanesa, assumiu um aspecto cada vez mais persa.
3. Os Estados Canatos independentes do Azerbaijão.
A divisão do Azerbaijão entre a Rússia e o Irã
Em meados do século XVIII, com o enfraquecimento do poder exercido pelos Xás Persas sobre o território azerbaijanês, o país desintegrou-se em 20 canatos, cujo os nomes eram: Ardabil, Ganja, Derbent, Erivan, Javad, Karabakh, Karadakh, Khoi, Maku, Maragin, Nakhchivan, Guba, Baku, Sarab, Shirvan, Sheki, Tabriz, Talysh e Urumi. Além desse canatos, o país era ainda subdividido em sultanatos de Kazah-Samshadil, Ilisu, Arash, Gutgashen e Nagorno-Karabakh, povoados pelos muçulmanos azerbaijaneses e cristões albaneses, formando a parte integral do canato azerbaijanês de Karabakh, que era formado pelos territórios entre os rios Kura e Araks. Os dqueses locais – ou "melikdoms" – de Dizak, Varanda, Khachen, e Gulistan, os quais ficam nas regiões montanhosas de Karabakh, também formaram parte desses canatos, do qual seus moradores expressavam sua lealdade como sendo vassalos.
No final do século XVIII e na primeira metade do século XIX, os Impérios Persa, Russo e Otomano lutavam pelo Azerbaijão, cada um querendo garantir a sua hegemonia sobre o país, cuja situação geopolítica significava importantes vantagens estratégicas. Um número de canatos tomou coragem para defender a sua soberania, enquanto alguns foram forçados, em uma tentativa de defender seus próprios interesses, a fechar acordos reduzindo-os a status de vassalos.
Então, em 14 de maio de 1805, um acordo foi assinado nas margens do rio Kura com o Khan azerbaijanês Ibrahim Khalil, do qual transferia o canato independente do Azerbaijão para o controle da Rússia. Esse acordo tem, hoje, uma ressonância política particular, por que prova que, historicamente, o Karabakh fazia parte integral do Azerbaijão.
A primeira guerra entre a Rússia e Pérsia entre 1804-1813, ocorrreu para estabelecer a dominância sob os khanatos azerbaijaneses e resultou na primeira divisão dos territórios azerbaijaneses entre a Rússia e Pérsia. O tratado de paz de Gulistan, assinado em 12 de outubro de 1813 pela Rússia e Pérsia, deu reconhecimento jurídico à anexação efetiva, pela Rússia, dos canatos do Azerbaijão do norte, com a exceção de Nakhchivan e Erivan. A segunda Guerra, que aconteceu entre a Rússia e Pérsia em 1826-1828, resultou no Tratado de Paz de Turkmanchay, assinado em 10 de fevereiro de 1828, conforme o qual a Pérsia oficialmente retirou as suas reinvindicações para o Azerbaijão do Norte e finalmente reconheceu a sua anexação, com a inclusão dos Canatos de Nakhchivan e Erivan pela Rússia.
Vale ressaltar aqui que os khanatos acima mencionados, inclusive Karabakh, foram anexados à Rússia puramente como possessões azerbaijanesas. Eles eram azerbaijaneses em virtude da população predominantemente azerbaijanesa e a composição étnica da elite dominante feudal (os khans, os maiores proprietários, o clero etc...).
4. O reassentamento dos Armênios no território do Azerbaijão
Conforme o Tratado de Turkmanchai e o tratado de paz assinado em Edirne em 1829, os armênios morando naquele época na Pérsia e no Império Otomano foram relocados para o Azerbaijão, primeiramente nos khanatos de Nakhchivan, Erivan e Karabakh. Assim, o estudioso russo K. Shavrov destaca que, no período 1828-1830, aproximadamente 40,000 Persas e 84,000 armênios da Turquia foram relocados para a Transcaucásia, onde foram estabelecidos nas melhores terras indígenas das províncias de Yelisavetpol (Karabakh) e de Erivan. Nessas terras, o número da população armênia era, antigamente, insignificante e os armênios relocados foram concedidos 200,000 desyatines (225 mil hectares) do território estadual.
Nos seus relatórios, o diplomata e dramaturgo russo Alexander Griboedov escreveu: “Em sua maior parte, os armênios foram estabelecidos nos estados dos proprietários Maometanos (muçulmanos). Esses recém-estabelecidos estão expulsando os Maometanos (…). Nós também deliberamos cuidadosamente sobre o aviso que poderia ser feito aos Maometanos, para reconciliá-los dessa agravação, que não vai durar muito, e também dispersar qualquer apreensão que eles possam ter sobre os armênios tomando possessão permanente sobre as terras onde eles se estabeleceram inicialmente. ”
O acadêmico americano Justin McCarthy prova esses fatos do assentamento dos armênios no Cáucaso do Sul e particularmente no Azerbaijão, pelos armênios. Entre 1828 e 1920, na busca por uma política orientada pela mudança de toda a composição demográfica do Azerbaijão, para que os armênios excedam, em número, os azerbaijaneses, onde mais de 2 milhões de muçulmanos foram expulsos usando força, e um número desconhecido foram mortos. Em duas ocasiões, em 1828 e 1854, os russos invadiram a Anatólia Oriental e nas duas ocasiões eles partiram, levando com eles 100,000 armênios simpatizantes do Cáucaso, onde substituíram os turcos - i.e. azerbaijaneses – que emigraram ou morreram. Durante a Guerra de 1877-1878, a Rússia tomou o distrito de Kars-Ardahan, expulsando a população muçulmana e assentando 70,000 armênios nas casas da população expulsa. Aproximadamente 60,000 armênios reestabeleceram-se no Cáucaso russo, durante os problemas de 1895-1896. Finalmente, as migrações da Primeira Guerra Mundial resultaram em uma troca quase igual de 400,000 armênios da Anatólia Oriental por 400,000 muçulmanos do Cáucaso.
Conforme as informações de McCarthy, entre os anos 1828 e 1920, aproximadamente 560,000 armênios foram reassentados no Azerbaijão.
Em outras palavras, foi na verdade após a conquista do sul do Cáucaso pela Rússia que a população armênia das terras do Azerbaijão ao norte do rio Araxes aumentou de forma tão drastica.
Ao olharmos para Karabakh, podemos ver nos relatórios oficiais do ano 1810 – ou seja, um pouco antes da anexação pela Rússia – que o khanato de Karabakh tinha 12,000 famílias, das quais 9,500 eram azerbaijanesas e somente 2,500 eram armênias. Conforme os dados do ano de 1823, só existia uma Cidade no khanato de Karabakh - Shusha – com aproximadamente 600 vilarejos, 450 dos quais eram azerbaijaneses e quase 150 era armênios, com a população total de 90,000 pessoas. Os números relativos as famílias azerbaijanesas e armênias em Shusha constituíram 1,048 e 474, e no campo, 12,902 e 4,331, respectivamente.
Através do decreto promulgado pelo Czar Nicholas I, em 21 de março de 1828, os khanatos azerbaijaneses de Nakhchivan e Erivan foram dissolvidos e substituídos por uma nova entidade administrativa conhecida como "Oblast armênio", administrada por oficiais russos; em 1849, o “oblast armênio” recebeu um novo nome de província de ("guberniya") de Erivan.
Para alcançar os seus principais objetivos, os armênios convenceram as autoridades russas de abolir o Patriarcado Albanês Cristão, que operava no Azerbaijão, e para transferir as suas propriedades para a Igreja armênia. Depois da perca da sua soberania e identidade confessional distinta, a população local albanesa das regiões ocidentais da antiga Albânia - a região de Karabakh - onde os colonos armênios continuavam a chegar, gradualmente passaram por um processo de “Gregorianização” ou “Armeniazação”.
5. Azerbaijão no século XIX – início do século XX
A partir de meados do século XIX, a indústria petrolífera estava florescendo no norte do Azerbaijão. O primeiro poço industrial foi perfurado em 1848. No final do século XIX e início do século XX, 95% do petróleo da Rússia, e 50% do mundo, foram produzidos no Azerbaijão. Os Nobels e Rothschilds estavam entre os barões do petróleo, e ganharam uma renda considerável. A riqueza dos Nobels vinha, em grande parte, dos lucros do petróleo azerbaijanês.
Na segunda parte do século XIX, início do século XX, também foi um período progressivo para a cultura nacional do Azerbaijão. Em 1908, Uzeyir Hajibayov, o famoso compositor azerbaijanês, compôs
"Leyli e Majnun", a primeira ópera do mundo muçulmano. Em geral, a cultura musical do país era tão desenvolvida que o Azerbaijão era conhecido como “O Conservatório do Oriente” ou “a Itália do Oriente”.
O despertar social e cultural nacional foi, também, observado em outras esferas. A partir de meados do século XIX, o conceito do esclarecimento em massa ativamente se espalhou, e o jornal "Azerbaijão" era publicado pelos esforços da inteligência azerbaijanesa em 1858 em Tabriz, no sul do Azerbaijão. Era a primeira revista na língua azerbaijanesa sendo publicada com diferentes nomes ao longo de muitos anos.
No Azerbaijão do Norte, entre 1875-1877, a revista "Akinchi" (Lavrador) era publicada sob a orientação do visionário Hasan bay Zardabi. Uma das maiores realizações do "Akinchi" era enfrentar o desafio de enriquecer a língua nativa e ampliar seu uso.
Ao mesmo tempo, surgiram muitas figuras literárias proeminentes para proporcionar um novo impulso para o desenvolvimento cultural da nação: Mirza Fatali Akhundov, Mirza Alakbar Sabir, Jalil Mammadguluzadah, Jafar Jabbarli, Firudun bay Kocharli, Ahmad Javad - são alguns que merecem um destaque especial. Um progresso semelhante foi feito naquela época nas áreas de belas artes, arquitetura, teatro e cinematografia.
Esse rápido movimento cultural-ideológico influenciou enormemente na institucionalização política e consolidação da sociedade azerbaijanesa. Os azerbaijaneses que moravam na Rússia estavam entre os primeiros do movimento democrático dos muçulmanos do Império para proteção dos direitos. Alimardan bay Topchubashov, renomado politico azerbaijanês, tornou-se um dos fundadores da "Ittifaqi Muslimin" (União dos muçulmanos). Essa União foi estabelecida em 1905, para representar e exercer os interesses dos povos turcos-muçulmanos dentro do Império. Em geral, os representantes azerbaijaneses participaram ativamente neste movimento, lutando para os objetivos comuns dos muçulmanos oprimidos da Rússia Czarista.
Considerando o progresso na área da consciência política no início do século XX, devemos destacar as visões de Ahmad bay Agaoglu e Ali bay Huseynzadeh, que moldaram a ideia do Azerbaijanismo, consolidando a nação ao nível moral, como um síntese das prioridades tradicionais islâmicas e turquicas com as da era moderna.
O período do final do século XIX até o inicio do século XX, também testemunhou uma estimulação da consciência política dos azerbaijaneses morando no sul do Azerbaijão. Os movimentos de 1905-1911 para restringir o absolutismo do Xá - chefiado pelos heróis nacionais azerbaijaneses, como Sattar khan e Baghir khan – pela primeira vez, trouxeram as formas democráticas da cultura política e a institucionalização para a Pérsia, que naquele período estava sob o governo da dinastia Gajar.
Uma consequência direta dos desenvolvimentos sócio-políticos de 1905-1911 foi o estabelecimento do movimento em Tabriz, em 1920, sob a orientação do Sheikh Khiyabani. Mais tarde, o estabelecimento do parlamento e governo no sul do Azerbaijão em 1945, indicou um crescimento significativo da cultura política dos azerbaijaneses morando no Irã do Xá. Na verdade, o sul do Azerbaijão se tornou o centro de todos os processos democráticos no Irã durante o final do século XIX e primeira metade do século XX.
6. A primeira República: A República Democrática do Azerbaijão (1918-1920)
Depois da revolução na Rússia em 1917, os processos de enfraquecimento e desintegração do Império Russo tornaram-se mais evidentes e amadureceram-se as condições nas regiões étnicas do Império Russo para formarem os Estados Independentes. Então, em 28 de maio de 1918, foi proclamada a República Democrática do Azerbaijão, no território da parte leste do Cáucaso do Sul – a primeira democracia parlamentar no Oriente muçulmano – que desempenhou um papel histórico no renascimento e formação do senso de identidade étnica e soberania do estado da nação azerbaijanesa. Naquela época, o líder da fração azerbaijanesa era Mammad Amin Rasulzade.
O desenvolvimento da República Democrática do Azerbaijão, tanto como nação tanto como Estado, era baseado na ideia do "Azerbaijanismo", que era muito ligado aos princípios do modernismo, islamismo e turquismo, simbolizando as aspirações do povo azerbaijanês para o progresso, baseado na preservação da sua aderência à civilização islâmica e cultura turquica, e na sua identidade étnica separada.
Na sua curta existência de menos de dois anos, o parlamento multipartidário do Azerbaijão e o governo da aliança conseguiram tomar algumas medidas importantes no sentido da construção da nação e desenvolvimento da soberania do estado, nas áreas como a educação, formação do exército, desenvolvimento dos sistemas independentes financeiros e econômicos e assegurando reconhecimento internacional da jovem república como pleno membro da comunidade internacional das nações. Em 11 de janeiro de 1920, na Conferência de Paz de Paris, com o Tratado de Versalhes, concordou-se, de fato, com o reconhecimento da independência da República do Azerbaijão. No final de 1919 e no início de 1920, porém, a situação política da República Democrática do Azerbaijão, dentro e fora do país, piorou consideravelmente. O país se encontrava em uma batalha entre os países da Entente, Rússia e Pérsia, cada um seguindo os seus objetivos geopolíticos nessa importante e estratégica região, rica em petróleo.
Declaração da Independência
O Conselho Nacional do Azerbaijão, consistindo do Vice-Presidente Hasan-bey Agayev, o Secretário Mustafa Mahmudov, Fatali Khan Khoyski, Khalil-bey Khas-Mammadov, Nasib-bey Usubbeyov, Mir Hidayat Seidov, Nariman-bey Narimanbeyov, Heybat-Gulu Mammadbeyov, Mehti-bey Hajinski, Ali Asker-bey Mahmudbeyov, Aslan-bey Gardashev, Sultan Majid Ganizadeh, Akber-Aga Sheykh-Ul-Islamov, Mehdi-bey Hajibababeyov, Mammad Yusif Jafarov, Khudadad-bey Melik-Aslanov, Rahim-bey Vekilov, Hamid-bey Shahtahtinskiy, Fridun-bey Kocharlinski, Jamo-bey Hajinski, Shafi-bey Rustambeyov, Hosrov-Pashabey Sultanov, Jafar Akhundov, Mahammad Maherramov, Javad Melik-Yeganov e Haji Molla Akhund-zadeh adotaram o seguinte Ato da Independência do Azerbaijão, em 28 de maio de 1918, na Cidade de Tiflis.
O regime político estabelecido na Rússia durante a Grande Revolução Russa causou o colapso de diferentes partes da estrutura estatal e o abandono da Transcaucásia pelas tropas russas.
Abandonados à própria sorte, os povos da Transcaucásia tomaram a decisão sobre o seu próprio destino e estabeleceram a República Democrática Federativa da Transcaucásia. No entanto, no desenvolvimento político subsequente, o povo da Georgia expressou sua vontade de separar-se da República Federal Democrática da Transcaucásia e criar a República Democrática Independente da Geórgia.
Gerada pela cessação de hostilidades entre a Rússia e Império Otomano, a situação política atual no Azerbaijão, e em particular a anarquia intolerável dentro do país, surgi a necessidade de criar um Estado separado no Azerbaijão, para livrar o seu povo dos constrangimentos da complicada situação interna e externa. Esse estado será composto da Transcaucásia oriental e do sul.
Consequentemente, o Conselho Nacional do Azerbaijão, baseado nas eleições nacionais, agora declara para a nação:
I. Doravante, o povo azerbaijanês é soberano e o Azerbaijão, composto da Transcaucásia oriental e do sul, é um estado independente com todos os direitos pertencendo ao estado.
II. A forma política de organização do Azerbaijão independente é de uma República Democrática.
III. A República Democrática do Azerbaijão tem como objetivo estabelecer as relações de boa vizinhança com todos os países, em particular com as nações e estados amigos.
IV. A República Democrática do Azerbaijão garante nos seus territórios, os direitos civis e políticos de todos os cidadãos, independentemente da nacionalidade, religião, status social e sexo.
V. A República Democrática do Azerbaijão proporciona amplas possibilidades para todos os grupos étnicos morando em seu território, para o livre desenvolvimento deles.
VI. Enquanto se aguarda a primeira sessão da Assembleia Constitutiva, a autoridade governamental do Azerbaijão será confiada ao Governo Provisório, que reporta para o Conselho Nacional e para a Assembleia Nacional, baseando nas eleições nacionais.
A República Democrática do Azerbaijão
1918 - 1920
Área: 114,000 km2
7. A segunda República: A República Socialista Soviética (RSS) do Azerbaijão (1920-1991)
A decisão política do Governo Bolchevista da República Federativa Socialista da Rússia (RFSR) de não reconhecer a República Democrática do Azerbaijão, o envio do XI Exército Vermelho nas fronteiras da República do Azerbaijão na primavera de 1920, a agressão da Armênia chefiada pelos Dashnaks contra o Azerbaijão em Karabakh e Zangezur, as ações terroristas dos grupos armênios e dos bolcheviques contra a população civil azerbaijanesa e a crise social e econômica sufocando o país – foram fatores que enfraqueceram a República Democrática do Azerbaijão e que resultaram na ocupação da sua capital pelo XI Exército Vermelho, em 27 e 28 de abril de 1920. Como foi citado no telegrama do Estado-Maior da Fronte do Cáucaso para o comando do XI Exército Vermelho, de 1º de maio de 1920, as tropas da RFSR foram ordenadas a capturar o território inteiro do Azerbaijão situado dentro dos confins do antigo Império Russo, sem atravessar a fronteira da Pérsia. Os próximos 70 anos, durante os quais o Azerbaijão fez parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), marcou uma nova fase importante no desenvolvimento do estado do Azerbaijão, durante a qual a República Socialista Soviética do Azerbaijão avançou no desenvolvimento social, econômico e cultural. Ao mesmo tempo, porém, houve no período soviético, também, o aparecimento de muitas tendências negativas no Azerbaijão, assim como em todas as outras partes da URSS.
Ao nível econômico, o país tornou-se um reservatório de combustível, matérias primas e produtos agrícolas para a economia soviética. Ao nível cultural, a imposição do alfabeto cirílico ao invés do alfabeto latino separou os laços do país com a literatura e a cultura azerbaijanesa. O regime soviético se empenhava muito em oprimir todos os esforços da inteligência azerbaijanesa de manifestar a sua identidade étnica separada e de estudar a verdadeira história do país.
Durante o período soviético, os territórios de Zangezur, Goycha, parte de Nakhchivan e outros distritos foram cortados do Azerbaijão e anexados à vizinha Armênia. Como resultado, a área do país, que durante o período da República Democrática do Azerbaijão, em 1920, era de 114,000 KM2, foi reduzida, em 1920-1921, para 86,600 KM2. Além disso, em 7 de julho de 1923, pela iniciativa da liderança de Moscou bolchevista, a assim chamada região autônoma de Nagorno-Karabakh, com a população predominante armênia, foi artificialmente cortada da parte do território histórico de Karabakh, sendo a maioria da população azerbaijanesa. Essa decisão foi marcada como o primeiro passo na companha política para separar Nagorno-Karabakh do resto do Azerbaijão.
8. A Terceira República: A República do Azerbaijão
Em 1988-1990, o movimento nacional democrático no Azerbaijão fez uma grande companha em favor da restauração da independência do país. Em 23 de setembro de 1989, o Azerbaijão estava entre as primeiras repúblicas soviéticas a tomarem suas próprias decisões sobre a sua soberania. Para suprimir esse movimento, em 20 de janeiro de 1990, com a aprovação da liderança soviética chefiada pelo Mikhail Gorbachev, o exército soviético foi enviado para o Azerbaijão. As represálias, que foram conduzidas com uma brutalidade sem precedentes, deixaram centenas de civis inocentes mortos e feridos. Um estado de emergência foi declarado e isso permaneceu em vigor até os meados de 1991. Não obstante, a luta pela independência das forças patrióticas do povo azerbaijanês se culminou na adoção da declaração do Conselho Supremo da República do Azerbaijão, em 31 de agosto de 1991, sobre a restauração da independência da República do Azerbaijão.
O ato que estabelecia a Independência da República do Azerbaijão, que entrou em vigor em 18 de outubro de 1991, estabeleceu as liberdades principais do estado independente do Azerbaijão, e determinou os princípios da sua estrutura política e econômica. Com esse ato a República do Azerbaijão tornou-se, novamente, com o intervalo de 71 anos, sujeito independente do direito internacional.
Em 1992, o Azerbaijão tornou-se membro das Nações Unidas e da Conferência de Segurança e Cooperação da Europa (CSCE), atualmente conhecido como a Organização de Segurança e Cooperação da Europa (OSCE).